O pastor protestante, sem  rumo na floresta do cerrado goiano, aflito, só conseguia lembrar-se de que  quando adolescente lera um autor francês, Chateaubriand ou Victor Hugo - de quem  guardara estas palavras: Uma noite eu me perdi nas florestas do Novo  Mundo. (...)
Os seculares troncos,  robustos, que não saiam dos lugares onde o Senhor Deus os plantou contemplavam  pelas viridentes copas a safira celeste que não raramente era adornada por  nuvens. Umas apressadas, como se estivessem perdidas e desesperadas no infinito,  e outras calmas, indolentes, mandrionas, meio adormecidas.
Cá  embaixo, ao rés do chão,  junto às árvores, um coração engustiado conduzia dois  pés por caminhos que nunca antes alguém trilhara. Ambos os pés  itinerando  a   esmo, e  o  coração  morada  da perplexidade e do medo, espelhavam um pastor  protestante que se perdera nas florestas densas que sobem pelas montanhas do  cerrado goiano. De nada lhe valeram as muralhas conselheiras prudentes, que  sempre são erguidas pela multidão dos anos. Era um velho esse pastor.

Empolgado e desatento rasgou  a mata desconhecida, correu pelas veredas dos buritis das araras azuis, grimpou  acolá pelos barrancos esverdeados de limo, cruzou as catanduvas escassas; subia  e descia com facilidade extrema as noruegas úmidas onde espertos colibris se  alternavam com os ruídos das mamangavas ao visitarem carinhosamente as flores  das vertentes rochosas.
Tinha penetrado a floresta,  mas não tinha um destino certo, um sítio a que quisesse chegar. Uma nave sem  rumo, por certo. Ele mesmo não conhecia a região; estava sozinho. Não portava  sequer um facão de caboclo mateiro, nem luvas protetoras. Todas as florestas são  belas pelos mesmos panoramas. O pastor protestante não fazia parte da floresta.  Não era árvore, nem flor, nem fruto. Um intruso, um inconveniente. Isso  reconheceu ele; quis regressar; abandonar a floresta.
Tentou. Não tinha semeado um  caminho para a volta. 
Todo pastor protestante não  sabe regressar. Voltar ao início de tudo. 
Encurralado pelas árvores,  não podendo mais progredir ou regredir, disse-lhe o  coração:
-Estamos  perdidos.
Feito pastor protestante  entendia que poderia sempre se aproximar de Deus e obter o que  precisasse.
Na cidade isso funcionava  bem.
O sermão irrepreensível,  exegeticamente correto, a roupa domingueira e aquele ar mesclado de  compunção e opressão apresentado no templo - fazia com que as pessoas fossem o  que não eram. Crianças sisudas - verticalizadas, ângulos retos, silentes, sem  gatinho nem borboleta, nenhuma brincadeira de esconde-esconde, toicinho frito,  chicolaté chicolaté, quantos dedos tem em pé? Ninguém podia pular  amarelinha.
Penteadas, sapatos de festa,  bem banhadas pela Gessy (Reminiscências de Fernando Prestes, gloriosa cidade da  infância do Autor.) do Ranieri - roupas limpas. As crianças não eram crianças  diante do pastor.
As comadres - nenhuma  comadre era comadre diante do pastor. Lá na varanda, mais a vizinha, era  mexerico e muita fofoca. Abriam a boca, o manancial de palavras nunca se  esgotava. Falam que te falam.
Mas na presença do pastor,  do seu pastor, todos os órgãos da fala - músculos e nervos - ficam entorpecidos.  As mulheres normais não eram mulheres normais diante do pastor. Todo pastor  protestante é doutor em pecado.
A  intervenção divina em seu espírito, as devastadoras lições trazidas, comunicadas  pelo Espírito de Deus, a catástrofe pessoal - sou-não-sou - constituem-se  em    óbices  imensos  para  que,  da parte dele, as crianças fossem normalmente  crianças, as irmãs bisbilhoteiras continuassem tagarelas.

Queria ver pinóquios na  igreja e laboriosas mas ansiosas martas. E operar, de algum modo, para que o  nariz nunca crescesse, os tarefas domésticas e a chateação da cozinha e fogão se  transformassem em ações feitas por mãos  de   princesas,   como  as  das   filhas   de  Jó  e  como K.Myllah (uma borboleta dourada - K.Myllah. Camila,  pela lingua etrusca significa mensageira. E, no grego, o mesmo significado tem  anjo (ánguelos), termo encontradiço no NT.) que nascida foi receber o seu nome  nos céus. K.Myllah é sempre estrela cintilante com brilho de arrebol  rosicler.
(...)
O ratão do banhado mora no  oco do tronco do jequitibá que a chuvarada do inverno derrubou. A família é  grande.
O doutor João de barro -  arquiteto ilustre - não contratou ninguém. Servente de pedreiro, colher e  pedreiro - ele é tudo; ergue palácio seguro sem ferro, nem cimento, nem pedra  britada.
- Sem resolver o meu próprio  problema - perdido aqui, a noite vem, e eu sem um fósforo, nem isqueiro.  
O pastor protestante  acalmava-se, debatia-se porém, o espírito, por crer que ali ninguém estava  perdido. Dentro em pouco todos encontrariam seus gasalhados, em algum lugar.  Como um regatinho distante que bate nas pedras, não as derruba, mas as contorna  e avança.
Começou a engendrar uma  idéia - há trilhões e trilhões de árvores e de animais no universo: nenhum está  perdido. Nenhum está ansioso no seu sítio. Só um ser se perde, e este em  qualquer lugar: na escola, no berço, na universidade, no trabalho e na Igreja. A  Igreja era o seu assunto. Ele, pastor. "Será que há tantos homens perdidos nas  igrejas?", meditava.
A indagação, porém, não  prosperava. A igreja é lugar de achados. 
O pastor protestante junto à  velha árvore de descanso e tristeza suspirava pela companhia de outro homem - Se  ao menos um outro pastor de cidade, seu amigo ou não, estivesse aqui comigo  abrandaria esta história, curaria este pavor imenso e resolveria de pronto o seu  problema. Ele mesmo não tinha aprendido assim. 
"Clamou este pobre, e o  Senhor o ouviu, e o salvou de todas as suas angústias" (SI.  34:6).
A solidão do homem só é  preenchida por Deus. 
"Ele faz com que o solitário  viva em família"  (SI. 68:6).
As cigarras com seus  retinidos ininterruptos cá e lá, a voz da rola ou o grito do nambu de vôo  rasteiro - não indicavam ao homem a direção a seguir. 
E Deus estava controlando  tudo.
O pastor protestante precisa  agora, com sofrimento, aprender a ouvir a voz do Senhor, mas sem a Bíblia ou o  abraço amigo dos filhos e da esposa distante. Cigarras ruidosas, grilos  cantores, os sapos feiosos cantam os esplendores da vida. 
"Servi ao Senhor com  alegria, apresentai-vos a Ele com cântico" (Sl.  100:2).
Mas porque será que os  homens não são homens, juntos ao pastor?
Quem não for autêntico e  falar e pregar artificialmente, tem o dom de comunicar aos ouvintes essa  impropriedade.
Naquelas expressões  ciclópicas de manifestação de vidas milhões - nada, por Deus, era artificial.  Tudo autêntico, verdadeiro. Deus criou a árvore esbelta, bonitona, ensinou-lhe a  rasgar o céu, a produzir outras irmãs. É a sinfonia de Deus.  
As flores morreram na terra  escura, mas o Deus que fabricou a borboleta dourada ressuscitou a  semente.
Foi um momento de paz e  tranqüilidade para o pastor.
Deslizou o seu espírito num  átimo pelos mistérios da ressurreição do Reino de Deus. Mesmo que morresse ali  mesmo, ali mesmo ressuscitaria dentre os mortos.
Esplandeceu na mente do  pregador um jardim infinito, coalhado de flores da terra e flores do céu,  cromatizado de cores que eram desconhecidas pelos pintores. E começou a cantar  em primeira audição:
O Senhor Deus engenhou as  flores
para dar aviso aos  homens
não  apressados
que crêem na ressurreição da  paz.
São as flores as mensageiras  pioneiras,
arautos da eterna  primavera
núncias festivas da  indestrutível
e perene  esperança:
o universo de Deus vai  ressurgir.
Mas Euponer queria cantar  mais  um hino novo, nunca apresentado pelo coro da Igreja, mas bem conhecido  dos Céus:
A  rutilante aurora
E a  Estrela dalva
São as  flores celestes
Que dos  céus proclamam
É chegado  o Reino
O Reino de  Cristo e de Deus.

E já começaram as mudanças.  As flores que morrem e ressuscitam, e morrem, mas sempre ressuscitam, não  residem em palácios, não fiam, mas nem o ricação Salomão se vestiu como qualquer  delas. Tal é o mistério - amém: as flores de Deus se vestem das roupas da  ressurreição. Não há vergonhas a cobrir, e mesmo que sejam elas sexuadas. O Deus  Eternamente Bendito - encerrou o Éden do Tigre e do Eufrates e da terra de  Havilá - mas semeou pelo mundo as flores do jardim primeiro - todas sem culpa,  nenhuma rebelde, nem mentirosa. O Éden de Deus prossegue. E está junto, bem  juntinho, de você, leitor.
Quem semeou as flores  milhares das densas florestas do cerrado goiano?
Foi o  Senhor.
Era para resolver um  problema só; assim o Senhor nos acudiu: 
Olhai os lírios do  campo (Mt.  6:28), a cura perfeita para a ansiedade humana. Quanto mais o sangue de  Cristo que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem  mácula, há de purificar a nossa consciência das obras mortas para que prestemos  culto ao Deus vivo. (Hb. 9:14 BJ)
Mas já curado de toda a  ansiedade, medita.
-Aqui no matão não há  leitos, nem segurança.
E o pastor, apavorado,  andejava ao léu, orava palavras rubras de desespero, olhava para a coma das  árvores, sempre assustado pelo ruído das folhas abanadas pelas asas de uma pomba  no mato ou de um carcará retornando ao ninho. Mas a noite ainda dormitava além  da serrania verde-azulada, bem lá onde os céus vinham fazer côrte às montanhas  escarpadas da mataria espessa e brava e demoraria um pouco ainda até ela  aparecer, sempre com vestes negras para cobrir o imenso leito da terra. O pastor  não portara com ele um texto das Escrituras de Deus. Como não tivesse levado  também qualquer lume, nem Bíblia, não poderia ler.
Esfaqueou-lhe profundamente  a alma a descoberta aterradora:
-Estou sem lugar para passar  a noite.
Sem barraca, nem facão, nem  fogo e sem saber bem o que significava esperar a aurora salvadora no meio do  mato.
Dificilmente percebemos que  todas as nossas ansiedades, angústias e problemas se dissipam ao permitir que a  Eternidade nos acuda. O que somos e sofremos são sempre realidades confinadas ao  tempo, que é sempre precário. Se o homem consegue, por vezes, libertar-se dele,  logo, logo o tempo se reconstrói e nos retornam à memória os nossos pecados,  quiçá já perdoados.
É vulgar dizer-se: "a crise  é uma oportunidade". A afirmação é, no mínimo, mansa e suave. O homem em crise,  seja densa ou leve, duradoura ou passageira - encontra nos valores do Espírito,  o conhecimento e a libertação de que tanto necessita.
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