domingo, 25 de março de 2012

Perdido na Floresta

O pastor protestante, sem rumo na floresta do cerrado goiano, aflito, só conseguia lembrar-se de que quando adolescente lera um autor francês, Chateaubriand ou Victor Hugo - de quem guardara estas palavras: Uma noite eu me perdi nas florestas do Novo Mundo. (...)


Os seculares troncos, robustos, que não saiam dos lugares onde o Senhor Deus os plantou contemplavam pelas viridentes copas a safira celeste que não raramente era adornada por nuvens. Umas apressadas, como se estivessem perdidas e desesperadas no infinito, e outras calmas, indolentes, mandrionas, meio adormecidas.

Cá embaixo, ao rés do chão, junto às árvores, um coração engustiado conduzia dois pés por caminhos que nunca antes alguém trilhara. Ambos os pés itinerando a esmo, e o coração morada da perplexidade e do medo, espelhavam um pastor protestante que se perdera nas florestas densas que sobem pelas montanhas do cerrado goiano. De nada lhe valeram as muralhas conselheiras prudentes, que sempre são erguidas pela multidão dos anos. Era um velho esse pastor.


Empolgado e desatento rasgou a mata desconhecida, correu pelas veredas dos buritis das araras azuis, grimpou acolá pelos barrancos esverdeados de limo, cruzou as catanduvas escassas; subia e descia com facilidade extrema as noruegas úmidas onde espertos colibris se alternavam com os ruídos das mamangavas ao visitarem carinhosamente as flores das vertentes rochosas.


Tinha penetrado a floresta, mas não tinha um destino certo, um sítio a que quisesse chegar. Uma nave sem rumo, por certo. Ele mesmo não conhecia a região; estava sozinho. Não portava sequer um facão de caboclo mateiro, nem luvas protetoras. Todas as florestas são belas pelos mesmos panoramas. O pastor protestante não fazia parte da floresta. Não era árvore, nem flor, nem fruto. Um intruso, um inconveniente. Isso reconheceu ele; quis regressar; abandonar a floresta.


Tentou. Não tinha semeado um caminho para a volta.


Todo pastor protestante não sabe regressar. Voltar ao início de tudo.


Encurralado pelas árvores, não podendo mais progredir ou regredir, disse-lhe o coração:

-Estamos perdidos.


Feito pastor protestante entendia que poderia sempre se aproximar de Deus e obter o que precisasse.


Na cidade isso funcionava bem.


O sermão irrepreensível, exegeticamente correto, a roupa domingueira e aquele ar mesclado de compunção e opressão apresentado no templo - fazia com que as pessoas fossem o que não eram. Crianças sisudas - verticalizadas, ângulos retos, silentes, sem gatinho nem borboleta, nenhuma brincadeira de esconde-esconde, toicinho frito, chicolaté chicolaté, quantos dedos tem em pé? Ninguém podia pular amarelinha.


Penteadas, sapatos de festa, bem banhadas pela Gessy (Reminiscências de Fernando Prestes, gloriosa cidade da infância do Autor.) do Ranieri - roupas limpas. As crianças não eram crianças diante do pastor.


As comadres - nenhuma comadre era comadre diante do pastor. Lá na varanda, mais a vizinha, era mexerico e muita fofoca. Abriam a boca, o manancial de palavras nunca se esgotava. Falam que te falam.


Mas na presença do pastor, do seu pastor, todos os órgãos da fala - músculos e nervos - ficam entorpecidos. As mulheres normais não eram mulheres normais diante do pastor. Todo pastor protestante é doutor em pecado.

A intervenção divina em seu espírito, as devastadoras lições trazidas, comunicadas pelo Espírito de Deus, a catástrofe pessoal - sou-não-sou - constituem-se em óbices imensos para que, da parte dele, as crianças fossem normalmente crianças, as irmãs bisbilhoteiras continuassem tagarelas.




Queria ver pinóquios na igreja e laboriosas mas ansiosas martas. E operar, de algum modo, para que o nariz nunca crescesse, os tarefas domésticas e a chateação da cozinha e fogão se transformassem em ações feitas por mãos de princesas, como as das filhas de Jó e como K.Myllah (uma borboleta dourada - K.Myllah. Camila, pela lingua etrusca significa mensageira. E, no grego, o mesmo significado tem anjo (ánguelos), termo encontradiço no NT.) que nascida foi receber o seu nome nos céus. K.Myllah é sempre estrela cintilante com brilho de arrebol rosicler.


(...)


O ratão do banhado mora no oco do tronco do jequitibá que a chuvarada do inverno derrubou. A família é grande.


O doutor João de barro - arquiteto ilustre - não contratou ninguém. Servente de pedreiro, colher e pedreiro - ele é tudo; ergue palácio seguro sem ferro, nem cimento, nem pedra britada.


- Sem resolver o meu próprio problema - perdido aqui, a noite vem, e eu sem um fósforo, nem isqueiro.


O pastor protestante acalmava-se, debatia-se porém, o espírito, por crer que ali ninguém estava perdido. Dentro em pouco todos encontrariam seus gasalhados, em algum lugar. Como um regatinho distante que bate nas pedras, não as derruba, mas as contorna e avança.


Começou a engendrar uma idéia - há trilhões e trilhões de árvores e de animais no universo: nenhum está perdido. Nenhum está ansioso no seu sítio. Só um ser se perde, e este em qualquer lugar: na escola, no berço, na universidade, no trabalho e na Igreja. A Igreja era o seu assunto. Ele, pastor. "Será que há tantos homens perdidos nas igrejas?", meditava.


A indagação, porém, não prosperava. A igreja é lugar de achados.


O pastor protestante junto à velha árvore de descanso e tristeza suspirava pela companhia de outro homem - Se ao menos um outro pastor de cidade, seu amigo ou não, estivesse aqui comigo abrandaria esta história, curaria este pavor imenso e resolveria de pronto o seu problema. Ele mesmo não tinha aprendido assim.


"Clamou este pobre, e o Senhor o ouviu, e o salvou de todas as suas angústias" (SI. 34:6).


A solidão do homem só é preenchida por Deus.


"Ele faz com que o solitário viva em família" (SI. 68:6).


As cigarras com seus retinidos ininterruptos cá e lá, a voz da rola ou o grito do nambu de vôo rasteiro - não indicavam ao homem a direção a seguir.


E Deus estava controlando tudo.


O pastor protestante precisa agora, com sofrimento, aprender a ouvir a voz do Senhor, mas sem a Bíblia ou o abraço amigo dos filhos e da esposa distante. Cigarras ruidosas, grilos cantores, os sapos feiosos cantam os esplendores da vida.


"Servi ao Senhor com alegria, apresentai-vos a Ele com cântico" (Sl. 100:2).


Mas porque será que os homens não são homens, juntos ao pastor?


Quem não for autêntico e falar e pregar artificialmente, tem o dom de comunicar aos ouvintes essa impropriedade.


Naquelas expressões ciclópicas de manifestação de vidas milhões - nada, por Deus, era artificial. Tudo autêntico, verdadeiro. Deus criou a árvore esbelta, bonitona, ensinou-lhe a rasgar o céu, a produzir outras irmãs. É a sinfonia de Deus.


As flores morreram na terra escura, mas o Deus que fabricou a borboleta dourada ressuscitou a semente.


Foi um momento de paz e tranqüilidade para o pastor.


Deslizou o seu espírito num átimo pelos mistérios da ressurreição do Reino de Deus. Mesmo que morresse ali mesmo, ali mesmo ressuscitaria dentre os mortos.


Esplandeceu na mente do pregador um jardim infinito, coalhado de flores da terra e flores do céu, cromatizado de cores que eram desconhecidas pelos pintores. E começou a cantar em primeira audição:


O Senhor Deus engenhou as flores

para dar aviso aos homens

não apressados

que crêem na ressurreição da paz.

São as flores as mensageiras pioneiras,

arautos da eterna primavera

núncias festivas da indestrutível

e perene esperança:

o universo de Deus vai ressurgir.


Mas Euponer queria cantar mais – um hino novo, nunca apresentado pelo coro da Igreja, mas bem conhecido dos Céus:


A rutilante aurora

E a Estrela d’alva

São as flores celestes

Que dos céus proclamam

É chegado o Reino

O Reino de Cristo e de Deus.




E já começaram as mudanças. As flores que morrem e ressuscitam, e morrem, mas sempre ressuscitam, não residem em palácios, não fiam, mas nem o ricação Salomão se vestiu como qualquer delas. Tal é o mistério - amém: as flores de Deus se vestem das roupas da ressurreição. Não há vergonhas a cobrir, e mesmo que sejam elas sexuadas. O Deus Eternamente Bendito - encerrou o Éden do Tigre e do Eufrates e da terra de Havilá - mas semeou pelo mundo as flores do jardim primeiro - todas sem culpa, nenhuma rebelde, nem mentirosa. O Éden de Deus prossegue. E está junto, bem juntinho, de você, leitor.


Quem semeou as flores milhares das densas florestas do cerrado goiano?


Foi o Senhor.


Era para resolver um problema só; assim o Senhor nos acudiu:


Olhai os lírios do campo (Mt. 6:28), a cura perfeita para a ansiedade humana. “Quanto mais o sangue de Cristo que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mácula, há de purificar a nossa consciência das obras mortas para que prestemos culto ao Deus vivo.” (Hb. 9:14 BJ)


Mas já curado de toda a ansiedade, medita.


-Aqui no matão não há leitos, nem segurança.


E o pastor, apavorado, andejava ao léu, orava palavras rubras de desespero, olhava para a coma das árvores, sempre assustado pelo ruído das folhas abanadas pelas asas de uma pomba no mato ou de um carcará retornando ao ninho. Mas a noite ainda dormitava além da serrania verde-azulada, bem lá onde os céus vinham fazer côrte às montanhas escarpadas da mataria espessa e brava e demoraria um pouco ainda até ela aparecer, sempre com vestes negras para cobrir o imenso leito da terra. O pastor não portara com ele um texto das Escrituras de Deus. Como não tivesse levado também qualquer lume, nem Bíblia, não poderia ler.


Esfaqueou-lhe profundamente a alma a descoberta aterradora:


-Estou sem lugar para passar a noite.


Sem barraca, nem facão, nem fogo e sem saber bem o que significava esperar a aurora salvadora no meio do mato.


Dificilmente percebemos que todas as nossas ansiedades, angústias e problemas se dissipam ao permitir que a Eternidade nos acuda. O que somos e sofremos são sempre realidades confinadas ao tempo, que é sempre precário. Se o homem consegue, por vezes, libertar-se dele, logo, logo o tempo se reconstrói e nos retornam à memória os nossos pecados, quiçá já perdoados.


É vulgar dizer-se: "a crise é uma oportunidade". A afirmação é, no mínimo, mansa e suave. O homem em crise, seja densa ou leve, duradoura ou passageira - encontra nos valores do Espírito, o conhecimento e a libertação de que tanto necessita.




Texto editado extraído do livro: O Pastor Protestante e a Borboleta Dourada de autoria do Professor Wilson Regis. Texto completo publicado no seguinte link http://opastorprotestante.blogspot.com/




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