quinta-feira, 25 de julho de 2013

Dízimo ou Mordomia Cristã?

Frequentemente sou perguntado se devemos ou não dar o dízimo, e esse tem se tornado um dos assuntos religiosos mais controversos até mesmo entre os que não seguem a fé cristã. Estranhamente, as pessoas perguntam já respondendo, afirmando ser isso algo do Antigo Testamento e que os apóstolos não orientaram a Igreja a dar o dízimo. O que me surpreende é que nunca encontrei alguém perguntando ou refletindo sobre o que Deus quer nos ensinar com o dízimo.
 
A maioria acha que Jesus não deixou explícito, de forma doutrinária e até sacramental, a questão do dízimo no Novo Testamento. Mas será que Ele deixou clara Sua vontade sobre isso e não a vemos porque estamos lendo com as lentes da avareza? Não entendemos ainda que o âmago da questão não é se devemos ou não dar os 10%, mas sim a motivação em contribuirmos ou não. Na verdade, estamos sendo provados por Deus com os bens que Ele nos confiou para representá-lO. Por isso, não se trata do quanto damos, mas do quanto retemos para nós. Não se trata de quanto vamos contribuir nem da frequência em si, mas se entendemos que nada do que temos é nosso, mas sim d’Ele.
 
O verdadeiro cristão encara a relação com o dinheiro como algo espiritual. Nada revela mais nossa real relação com Deus e com o mundo do que pela forma que usamos o dinheiro. Será que discernimos que há uma força maligna que alimenta o sistema mundial de modo que a maioria de nós esteja dominada pelo dinheiro? Se o que determina nossas ações é o quanto vamos ganhar ou perder, então estamos sendo dominados pelo dinheiro. Precisamos aprender, ainda que com dores, que o modo como lidamos com o dinheiro determina o elo entre nós e Deus ou com os demônios. E Jesus nos advertiu que ninguém pode servir a Deus ou ao dinheiro ao mesmo tempo.
 
“O Espírito de Deus tenta falar ao homem moderno sobre a grande maldição que está sobre seu coração e sua vida – ele ficou tão absorvido pelo dinheiro e (…) por seus interesses que qualquer noção de Deus (…) e de eternidade não tem espaço em seu mundo. Há cifrões diante de seus olhos, e ele preferiria fechar um negócio e obter um lucro irrisório a procurar o caminho para o reino de Deus” (A. W. Tozer).
 
O cego avarento faz apologia a uma fútil espiritualidade, dizendo que Deus não se importa com dinheiro. “Na verdade”, disse Howard Dayton [1], “Jesus Cristo falou mais sobre dinheiro do que sobre quase todos os outros assuntos. Há na Bíblia 500 versículos sobre oração, menos que 500 sobre a fé, porém, mais de 2.350 sobre dinheiro e posses.” Temamos, então, que ao concentrar demasiado esforço em provar que o dízimo foi só uma passageira obrigação da Lei não estejamos, na verdade, sagazmente manipulando um meio para justificar nossa avareza e, assim, escapar da responsabilidade em honrar a Deus com nossas finanças.
 
Eu não faço apologia ao dízimo, mas sim à mordomia cristã. A história nos mostra que os homens mais usados por Deus foram sempre os mais generosos. “Essa é uma questão em que muitos líderes naufragam, e seu trabalho tão importante termina desastrosamente. O amor ao dinheiro por parte de alguns tem feito mais para desacreditar a obra de evangelização, e para levar muitos ao ostracismo, do que qualquer outro fator” (Torrey). A meu ver, o auge de um verdadeiro avivamento é atingido quando o poder do Espírito Santo leva a Igreja à reforma social, a ponto de os mais ricos repartirem com os mais pobres, quando ninguém retém algo para si, quando o dinheiro não é gasto em coisas vis e há provisão para o avanço do Reino de Deus. Muitos querem se distinguir na pregação e no ministério, mas, segundo Paulo, devemos nos aplicar às boas obras a favor dos necessitados, pois esse é um dos motivos de sermos infrutíferos na fé (Tito 3:14).
 
Lutero mencionou que “a última coisa a se converter num homem é o seu bolso”. A minha sugestão é que, longe de ser uma obrigação sob pena de maldição, devemos contribuir liberal e sistematicamente e podemos usar (no mínimo) o dízimo como um princípio de mordomia, expressando a graça de Deus em generosidade e justiça. Reconheçamos que por natureza somos avarentos e por isso devemos desconfiar de nosso maligno coração. Não caiamos no engano de contribuir quando “sentirmos”, porque nossa carne nunca sente de se render aos interesses de Cristo e, quando o faz, espera receber em troca. Temos que pregar o Evangelho para nosso dinheiro assim que o recebemos, consagrando-o totalmente a Deus. É a prática da contribuição pela fé em Deus que nos cura da avareza, até sermos gradualmente conformados à imagem d’Aquele que, sendo rico, Se fez pobre, para que na Sua pobreza enriquecesse a muitos.
 
“O lema do cristão deve ser: trabalhar muito, gastar pouco, dar muito e dedicar-se inteiramente a Cristo” (Anthony Groves).
 
Como prática de disciplina cristã, recomendo o que Tozer disse:
“1. Nossa oferta deve ser sistemática;
2. nossa oferta deve ser fruto de um motivo justo;
3. nossa oferta deve ser proporcional ao que temos; e
4. nossa oferta deve ser feita no(s) lugar(es) certo(s)”.
 
Temamos que alguém seja tão pobre que a única coisa que ele tenha seja o dinheiro.
 
Gerson Lima
Monte Mor, 27/06/2013

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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Comunhão e Confessar.

 I Jo 1:7 Porém, se vivemos na luz, como Deus está na luz, então estamos unidos uns com os outros e o sangue de Jesus o seu Filho nos limpa de todo o pecado.
 
I Jo 1:9 Mas se confessarmos os nossos pecados a Deus, ele perdoará os vossos pecados e nos limpará de toda maldade.
 
Tg 5:16 Portanto confessem os seus pecados uns aos outros, para que vocês sejam curados.
 
Pv 28:13 Quem tenta esconder os seus pecados não terá sucesso na vida, mas Deus tem misericórdia de quem confessa os seus pecados e os abandona.
 
Textos extraídos da Bíblia Sagrada Ed. Paulina na linguagem de hoje.
 
As duas palavras chaves destes textos acima são: unidos (outra versão seria comunhão) e confessar. É interessante pois não há gradação, quanto a importância da união (comunhão); se a minha comunhão com Deus é, maior ou menor que a minha comunhão com o meu irmão. O diferencial é Deus como luz, contrastando com nossas trevas. Somos um misturar de luz e escuridão. É difícil saber se somos mais uma ou menos a outra.
 
Em Gn 1:3 inferimos um paralelo com um possível vislumbre de quem somos; no final diz: “a noite passou e veio a manhã. Esse foi o primeiro dia". Não sejamos simplórios ao imaginarmos que por praticarmos obras de justiça ( ir as reuniões, ler a Bíblia, orar, ofertar, das esmolas, não fumar, não beber, ser moralista ), nos santifiquem mais que, os demais filhos de Deus; inclusive nos avantajando sobre aqueles que ainda não creram.
 
Não nos enganemos, há mais trevas em nós do que imaginamos; como no princípio do livro de Gênesis, o mesmo período de dia e de noite. A questão é que maquiamos nossa sombra, com lampejos de bondade, santidade e ativismo espiritual. Nos escondemos em nossos atos de justiça, achando ser o ponto focal. A luz de Deus não é essencialmente santificadora mas, expositora, reparadora e condutora ( levando-nos a união com o Pai, seu Filho e os irmãos ). Quanto mais imerso nessa policromia divina, mais, reconhecemos quão abissais são nossas trevas; e assim podemos clamar: Senhor, socorre-nos.
 
“Mas, se confessarmos o nosso pecado a Deus“. Aqui fica claro que, quanto mais luz mais confessar, quanto menos luz menos confessar. Aparentemente é fácil em relação a Deus, mas, essa mesma atitude para com um irmão não é tão simples. Blaise Pascal ( 1623 – 1662 ) um filósofo e piedoso cristão, no auge de sua experiência com Deus dizia que, os nossos pecados deveriam ser confessados para o máximo de pessoas possíveis. Uma irrealidade em nosso contexto pós-moderno.
 
Assim como precisamos do perdão de nossa Pai Eterno, de igual modo e, na mesma proporção do perdão de nossos irmãos. “Portanto confessem os seus pecados ... para que vocês sejam curados“. Aqui o pecado parece ser tratado como uma doença sintomática e, o processo de cura é pelo confessar uns aos outros; com a oração de uma pessoa obediente a Deus.
 
Acho estranho, termos uma compreensão de pecado como algo estanque e terminal. O pensamento do apóstolo Tiago é bem coerente nesse texto, pois se deduz o pecado como uma construção contínua existencial. Quando nosso corpo é acometido por algum mal, precisamos de um médico para nos receitar um remédio. A analogia é verdadeira, quanto ao corpo espiritual; se não houver um tratamento, o corpo somatizará os problemas, produzindo ansiedades, depressões e neuroses, aliados a sentimentos de culpa.
 
O confessar os pecados e a oração são a materialização da “ cura pela fala “, expressão criada por Sigmund Freud ( 1856 – 1939 ). Ao falar para um “ amigo mais chegado que um irmão “, Pv 18:24, confrontamos nossas trevas, choramos, nos envergonhamos, percebemos nossa real condição, nos arrependemos e, entramos em um processo de restabelecimento espiritual e emocional. Em Pv 28:13 diz: “ Quem tenta esconder os seus pecados não terá sucesso na vida ...”, um texto bem ao nosso estilo contemporâneo onde, o sucesso é questão de racionalidade mental, mas, também advindo do equilíbrio e harmonia emocional – espiritual. Comunhão e confessar são duas palavras que, podem mudar o rumo de nossa história cristã.
 
Abraços a todos os irmãos e amigos.
 
Davi.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O cinema pensa

O filme: Morte em Veneza do diretor Luchino Visconti, ano 1971, é um clássico baseado no romance de Thomas Mann, com o mesmo título e, publicado pela primeira vez em 1912. Espero que assistam depois do meu comentário e tirem suas conclusões.
 
Em uma burguesia extravagante e consumista, vivendo o florescer do capitalismo, se escondia em cada situação social a hipocrisia e a luxúria; o ócio e o faz de contas; um mundo restrito a uma fatídica realidade desgostosa e entediante. A filmagem é pouco comum para os nossos dias, acostumados a superproduções hollywoodianas com, alta tecnologia e hiperdefinição de tomadas de imagens. Creio que o diretor acertou, com sua proposta de nos causar um estranhamento; até vontade de sair da sala de projeção. Mas, é uma belíssima produção, com os impecáveis figurinos dos atores; a praia, as ruas, as casas da velha e romântica Veneza do início do século XX.
 
O pavor e o medo da sombria peste negra ( a cólera ) que, matou milhões de europeus e asiáticos, se aproximava da cidade. O tema da homossexualidade é uma contradição naquela sociedade aparentemente puritana e impostora. Tratado no filme de maneira cuidadosa e imparcial o tema, penso eu, fica aberto a conclusões dos que o assistem; sem uma apologia a um determinado ponto de vista.
 
O ator principal o escritor alemão Ausenbach, é um misto de obsessão beirando a loucura, e um conhecimento mais artístico e sentimental, que uma racionalidade moral. Ausenbach já talvez portador do vírus da cólera oscila entre a saúde e fraqueza. Sua obsessão mostra o perfil de alguém que, cegado por um desejo, se deixa morrer pelo inatingível. A lembrança de sua esposa e filha que, ficaram em Munique, talvez salvasse sua vida se voltasse; mas, como foi enfeitiçado pelo belo, retroagiu para o destino que escolhera.
 
Os cantores e músicos que cantam, tocam e riem entretendo os turistas venezianos, os enganam pois, a sombria peste se aproxima; é preferível vê-los gastar na cidade, que alertá-los sobre a epidemia.
 
Tadzio como a representação e corporificação do belo platônico, simboliza o inconsciente inquietante de Ausenbach, buscando uma suposta satisfação; isso comprometeria sua carreira como escritor e, a discriminação o expulsaria da elite burguesa. A mãe de Tadzio é um típico exemplo de passividade e, ignorância sentimental. Na praia ela se diverte lendo livros e conversando com parentes, enquanto se imobiliza ao ver seu filho a mercê de olhares estranhos.
 
O inatingimento da obsessão pervertida do escritor Ausenbach, com sua morte ao final, pode representar um discurso para no fundo não justificar a homossexualismo. Penso que a homossexualidade é sugerida pelo diretor; que também é o protagonista, como uma doença; se comparada a peste que se avizinha. Uma epidemia mortal e sem cura, isso no contexto da projeção. A puberdade de Tadzio é um momento de reflexão. Os pais devem tratar do assunto com os filhos com sinceridade e honestidade, sem discriminação; trazendo para a discussão elemento morais, éticos, culturais e espirituais. Acho que nesta perspectiva, se produzirá equilíbrio e coerência, sem os demoníacos e perigosos extremos.
 
A cena do prostíbulo expõe nossa natureza corrupta, onde os desejos e fantasias sexuais, fora de uma normalidade são alta dose de veneno para o inconsciente. As discussões entre Ausenbach e seu amigo sobre o belo platônico, expõe o perigo de se idealizar uma doutrina, em bases sentimentais, sem equilíbrio e totalizante. Insinua-se um auto governo de atitudes e vontades, sem lugar para contradições, desprovida de um mecanismo de retenção. Assistam. Shalom, Shema. Abraços a todos. Até breve.
 
Davi.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

NÃO QUERO UM DEUS QUE FUNCIONE !


                   Já decidi: Não quero um deus que funcione segundo as minhas expectativas. Não quero um deus que funcione de acordo com minhas orações. Não quero um deus que funcione de acordo com a minha noção de justiça. Não quero um deus que funcione a partir das minhas chantagens religiosas e minha birra espiritual. Não quero um deus que funcione na solução dos meus problemas, para me arranjar um emprego, para curar meu filho, para me ajudar a realizar meus sonhos. Não quero um deus que funcione à base da manivela da minha prática religiosa e de minha limitada piedade. Não quero um deus que funcione para aliviar minha mente estressada e meu coração carregado dos cuidados deste mundo. Não quero um deus que seja à minha imagem e semelhança.
                   Rejeito este relacionamento utilitário com Deus. De olhar para Ele como uma máquina de abençoar pessoas. Como essas máquinas de refrigerante que a gente encontra nas lojas de conveniência. Uma máquina que, para funcionar, precisa das moedas da oração, da leitura da Bíblia, do jejum, da participação regular nas atividades da igreja, do exercício constante e rígido para manter a santidade e não pecar, e assim por diante. Não quero um deus conveniente.
                   Rejeito esse evangelho que diz que Deus irá me abençoar apenas quando eu fizer determinadas coisas corretamente, que irá amar-me mais se eu tiver determinadas atitudes, que irá escolher-me para coisas importantes se meu coração estiver perfeito em sua presença.
                   Não quero um deus que funcione a partir de mim mesmo. Esse não é o deus verdadeiro, e sim o resultado frágil do meu próprio egoísmo, que lá no fundo busca um deus que lhe sirva para todos os fins.
                   Não, não quero um deus para funcionar. Hoje eu quero um Deus para me relacionar, para conhecer na intimidade, para reconhecer Sua soberania e submeter-me aos Seus propósitos. Quero um Deus para adorar, para amar, para me entregar, ainda que minha vida as coisas não funcionem como eu gostaria. Quero um Deus  para crer e manter-me fiel, ainda que isso implique em permanecer enfermo, desempregado, ou viver outras circunstâncias contrárias.
                   Não estou procurando funcionalidade, mas relacionamento. Talvez o mesmo relacionamento do filho pródigo com seu pai (Lucas 15). Um relacionamento baseado na graça e no amor do Pai, o qual, em todo tempo, manteve aberta  a porta do abraço e do beijo.
                  Quero ter com Deus o relacionamento de Arão, cujo privilégio foi ouvir do próprio Deus: “Na sua terra herança nenhuma terás, e no meio deles nenhuma porção terá,: EU SOU a tua porção e a tua herança no meio dos filhos de Israel.”(Números 18:20).
                   Já decidi: esse será o grande alvo da minha vida! Deus nos abençoe.
 
Pr. Henrique Rossi,  1a  I.P.I. de Maringá,

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

"LOUVAR A HOMENS"

Carta escrita no século 19 por John Nelson Darby ao Editor de um de seus livros
 
"Meu caro amigo e irmão em Jesus Cristo,
 
"Deu-me muita satisfação ver sua tradução de meu livro. Tive o grato prazer de lê-la, ou melhor dizendo, de ter alguém que a lesse para mim, naqueles momentos dos quais o Senhor nos diz, como disse aos apóstolos, "Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco" (Mc. 6:31). Mas não posso deixar de dizer-lhe, meu caro amigo, que o prazer que a aparência do seu trabalho me trouxe foi, em certa medida, abatido pela opinião demasiado favorável que você expressou a meu respeito no prefácio. Antes que tivesse lido uma palavra sequer de sua tradução, presenteei a um mui querido e sincero amigo com um exemplar, e ele mencionou o que você escreveu em seu prefácio louvando minha piedade. O texto produziu em meu amigo o mesmo efeito que viria a produzir em mim, mais tarde, quando o pude ler. Espero, entretanto, que você não leve a mal o que vou dizer a respeito do assunto, o que é fruto de uma experiência razoavelmente longa.
 
"O orgulho é o maior de todos os males que nos afligem, e de todos os nossos inimigos, não apenas é o mais difícil de morrer, como também o que tem a morte mais lenta; mesmo os filhos deste mundo são capazes de discernir isto. Madame De Stael disse, em seu leito de morte, Sabe qual é a última coisa que morre em uma pessoa? É o seu amor-próprio." Deus abomina o orgulho mais do que qualquer coisa, pois o orgulho dá ao homem o lugar que pertence a Deus que está acima de tudo. O orgulho interrompe a comunhão com Deus, e atrai Sua repreensão pois "Deus resiste aos soberbos" (I Pd. 5:5). Ele irá destruir o nome do soberbo, pois nos é dito que "a altivez do homem será humilhada, e a altivez dos varões se abaterá, e só o Senhor será exaltado naquele dia" (Is. 2:17). Como você mesmo irá sentir, meu caro amigo, estou certo de que não há maior mal que uma pessoa possa fazer a outra do que louvá-la e alimentar seu orgulho. "O homem que lisonjeia a seu próximo, arma uma rede aos seus passos" (Pv. 29:5) e "a boca lisonjeira obra a ruína" (Pv. 26:28). Você pode estar certo, além do mais, que nossa vista é muito curta para sermos capazes de julgar o grau de piedade de nosso irmão; não somos capazes de julgar corretamente sem a balança do santuário, e ela está nas mãos daqu*Éle que sonda o coração. Não julgue nada antes do tempo, até que o Senhor venha, e torne manifesto os conselhos do coração, e renda a cada um o devido louvor. Até então, não julguemos nossos irmãos, seja para bem seja para mal, senão com a moderação que convém, e lembremo-nos que o melhor e mais certo juízo é aquele que temos de nós mesmos quando consideramos aos outros melhores do que nós.

"Se eu fosse lhe perguntar como sabe que eu sou "um dos mais avançados na carreira cristã, e um eminente servo de Deus", sem dúvida você iria ficar sem saber o que responder. Talvez você viesse a mencionar minhas obras publicadas; mas será que você não sabe, querido amigo e irmão -- você que pode pregar um sermão edificante tanto quanto eu -- que os olhos vêem mais do que os pés alcançam? E que, infelizmente, nem sempre somos o que são os nossos sermões? "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós" (II Co. 4:7). Não lhe direi a opinião que tenho de mim mesmo, pois se o fizer, é provável que enquanto o faça procure minha própria glória, e, enquanto estiver buscando minha própria glória, possa parecer humilde, o que não sou. Prefiro dizer-lhe o que o nosso Mestre pensa de mim -- Ele que sonda o coração e fala a verdade, que é "o Amém e a fiel Testemunha", e que tem falado frequentemente no mais íntimo do meu ser, pelo que agradeço a Ele. Creia-me, Ele nunca me disse que sou um "eminente Cristão e avançado nos caminhos da piedade." Ao contrário, Ele me diz bem claramente que se eu procurasse o meu próprio lugar, iria encontrá-lo como sendo o do maior dos pecadores, pelo menos dentre os que são santificados. E devo dar mais crédito ao julgamento que Ele faz de mim, meu caro amigo, do que aquilo que você pensa a meu respeito.
 
"O mais eminente Cristão é um daqueles de quem nunca se ouviu falar, algum pobre trabalhador ou servo, para quem Cristo é tudo, e que faz tudo para ser visto por Ele, e somente por Ele. O primeiro deve ser o último. Fiquemos convencidos, meu caro amigo, de louvar somente o Senhor. Só Ele é digno de ser louvado, reverenciado, e adorado. A Sua bondade nunca é demasiadamente celebrada. O cântico dos abençoados (Apocalipse 5) não louva a ninguém senão `Aquele que os redimiu com o Seu sangue. Não há no cântico uma única palavra de louvor a qualquer dos redimidos -- nenhuma palavra que diga que são eminentes, ou que não são eminentes -- todas as distinções estão perdidas no título comum, "os redimidos", que expressa a alegria e glória de todo o Corpo. Empenhemo-nos em trazer nossos corações em uníssono com aquele cântico, ao qual todos esperamos que nossas débeis vozes venham se unir. Esta será a razão da nossa alegria, mesmo enquanto estivermos aqui, e contribuirá para a glória de Deus, a qual é lesada pelo louvor que os Cristãos frequentemente prestam uns aos outros. Não podemos ter duas bocas -- uma para louvar a Deus e outra para louvar o homem. Possamos, então, conhecer o que os serafins fazem (Isaías 6:2,3), quando com duas asas cobrem suas faces, como um sinal de sua confusão diante da sagrada presença do Senhor; com outras duas asas cobrem seus pés, como se tentassem esconder de si mesmos os seus próprios passos; e com as duas asas restantes voam para executar a vontade do Senhor, enquanto proclamam, "Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos: toda a terra está cheia da Sua glória".
 
"Perdoe-me por estas poucas linhas de exortação Cristã, as quais tenho certeza, irão, cedo ou tarde, se tornar úteis para você, passando a fazer parte da sua própria experiência. Lembre-se de mim em suas orações, enquanto rogo para que a bênção do Senhor possa pousar sobre você e seu trabalho. Se você porventura vier a imprimir uma outra edição -- como espero que aconteça -- por gentileza, exclua as duas frases para as quais chamei sua atenção; e me chame simplesmente "um irmão e ministro no Senhor." Isto já é honra bastante, e não é preciso mais." J. N. Darby
 
 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Como Foi nos Dias de Noé...

Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do homem. (Mt 24:37) Nos dias de Noé, as pessoas comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, quando,repentinamente, veio o dilúvio. Quando Noé entrou na arca, o dilúvio começou e todos foram levados. Comer e beber, casar-se e dar-se em casamento são coisas legitimas. Não há nada de errado nisso, mas essas coisas não podem tornar-se o objetivo da vida. Se você faz do comer e beber, casar-se e dar-se em casamento o alvo da sua vida, então algo está errado, e muito errado.

Pense nos dias de hoje: casando-se e dando-se em casamento; gente casando pela sétima. Estes são os dias de Noé. E assim será a vinda do Filho do homem. O que o Senhor quer dizer quando usa esta expressão “comento e bebendo, casando-se e dando-se em casamento”? Ele quer dizer que as pessoas eram muito materialistas, muito ocupadas com as coisas do mundo e que elas não tinham qualquer interesse em coisas espirituais. Elas não pensavam a respeito do bem estar de suas almas. Elas eram completamente terrenas e mundanas, quando repentinamente, Noé entrou na arca. Deus disse a Noé: “Entra na arca”. A frase “entrou na arca” (Gn 7:7) de acordo com o contexto, não se refere às pessoas que serão guardadas ao passar pela Grande Tribulação. Na verdade, a expressão significa ser tirado para fora da tribulação, Você precisa ler o contexto para entender isso. Desse modo, quando Noé entrou na arca, então veio o dilúvio.

A palavra “então” (Mt 24:40) é uma palavra chave muito importante. “Então” quer dizer “naquele tempo”. No momento em que Noé entrou na arca, e o dilúvio estiver para vir, “então” dois estarão no campo: um será tomado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão trabalhando no moinho: uma será tomada e outra será deixada. Se você adicionar o texto de Lucas 17:34, outros dois estarão na cama, dormindo. Portanto, você encontra aqui dois dormindo na cama, dois trabalhando no campo e dois trabalhando no moinho. Isso não quer dizer que haja seis pessoas. O que o Senhor quer nos dizer é que existem duas pessoas, e dois é o número do testemunho, o qual representa os cristãos, os crentes verdadeiros estarão vivendo no tempo da parúsia.

Já dissemos em outra oportunidade que o número da igreja é tanto sete como doze. Nós temos as sete igrejas da Ásia em Apocalipse 2 e 3. Contudo, sete representa uma perfeição temporária, restrita a esta era em que vivemos. Já o numero doze representa a perfeição eterna. Desse modo, em Apocalipse 21, a cidade santa, a Nova Jerusalém, é marcada pelo número doze: doze portas, doze fundamentos. Nos textos de Mateus 24:40 e 41 e Lucas 17:34, temos apenas o número dois. Onde estão os dez que faltam? No capítulo 25 de Mateus encontramos as dez virgens. A parábola das dez virgens, mais o número dois dos textos acima referidos completam o número perfeito.

Qual é a diferença entre as dez virgens e os dois crentes? Os dois crentes são aqueles que estarão vivos no tempo da parúsia, ou da vinda do Senhor, enquanto as dez virgens representam aqueles que morreram em Cristo.

Tradicionalmente, nós dizemos que as cinco virgens prudentes representam os crentes e as cinco imprudentes representam incrédulos. Contudo, as Escrituras nunca descrevem um incrédulo como uma virgem. Um incrédulo é um adúltero ou adúltera. Somente aqueles que são lavados pelo sangue do Cordeiro são virgens. Em 2 Coríntios 11:2, Paulo diz: ...mas tenho preparado para vos apresentar como virgem para um só esposo, que é Cristo. Todas estas virgens dormiram. Dormir aqui não se refere ao sono normal que é de cerca de oito horas e, para alguns, somente quatro horas. Este sono refere-se à morte devido à demora do Senhor. Estas pessoas estavam esperando pelo Senhor no primeiro século, mas porque Ele não veio, elas morreram. Outros estavam esperando pelo Senhor no século II, mas o Senhor não chegou e eles morreram. Portanto, as dez virgens representam aqueles que morreram em Cristo Jesus, mas serão ressuscitados dentro os mortos quando a voz se fizer ouvir. Você coloca-os todos juntos (as dez virgens e os dois crentes) e obtém os doze.

Como você sabe, a terra é redonda. Por causa disso, quando o arrebatamento ocorrer, alguns estarão dormindo já que numa parte do mundo será noite. Alguns estarão trabalhando no campo porque será por volta do meio-dia, enquanto outros estarão moendo o grão cedo pela manhã (as mulheres naqueles dias trabalhavam no moinho de manhã cedo). Isto nos mostra que a terra é redonda. Então, repentinamente, o Senhor virá como ladrão. Um será tomado e o outro deixado. A palavra “tomado” aqui é “paralambano”, usada 52 vezes nas Escrituras. Algumas vezes ela é empregada no bom sentido, outras vezes no mau sentido. Você precisa ler o contexto para determinar o sentido.

Gostaria de perguntar algo a você: quando um ladrão entra em sua casa, o que será que ele vai roubar? Será que ele roubará o seu lixo? Se fosse assim, eu gostaria que ele viesse todas as noites. O que nos surpreende é que quando ladrão vem, ele parece saber por instinto onde o tesouro está escondido. Ele irá até o seu tesouro. Você pensa que será diferente com o Senhor? Porventura o Senhor vai tomar o lixo para Si e deixar o tesouro? É claro que não! Ele tomou uma daquelas duas pessoas para si. Sem dúvida, aquele que foi tomado pelo Senhor é aquele que lhe é precioso. Contudo, externamente não há diferença entre eles.

Não fique com medo de ir para a cama dormir esta noite. Algumas pessoas dizem que, porque o Senhor está voltando, eles não ousam sequer dormir. Eles dizem: “Se o Senhor vem e eu estou pregando, graças a Deus. Aleluia! Eu serei arrebatado”. Não necessariamente. Siga sua vida normalmente. Se já é noite, vá dormir. Siga cumprindo seus deveres normalmente. Se está amanhecendo, vá moer o grão para a refeição. Siga cumprindo suas responsabilidades rotineiras: vá para o campo e trabalhe. Hoje em dia algumas pessoas dizem: “Já que o Senhor está voltando, qual é o sentido de fazer qualquer coisa?” Isto não está certo. Siga em frente, viva uma vida normal. Contudo, há uma diferença. Externamente, se você observar os cristãos, você não notará qualquer diferença. Você irá descobrir que todos vão à igreja aos domingos. Talvez todos levem suas Bíblias consigo. Muitos nem mesmo se preocupam com isso, pois a igreja providencia as Bíblias para eles. Externamente, você não nota a diferença, e não tente julga-los, pois não há diferença; ambos estão moendo – não há diferença; ambos estão trabalhando no campo – não há diferença. Contudo, o Senhor sabe quem o está aguardando e quem não está; quem está vigiando e quem não está; quem está vencendo e quem está sendo vencido. O Senhor sabe. Que grande surpresa será!

Queridos irmãos, tudo isso pode acontecer a qualquer momento. Não diga que o Senhor está retardando a Sua vinda. Ele pode vir a qualquer momento, mas Ele virá como ladrão. Você está pronto para Ele? Será que você é digno de ser tomado? Ou será que você será deixado para trás? Temo que haverá grandes surpresas. Muitas pessoas pensam: “Certamente aquela pessoa será tomada”, todavia ela será deixada. Muitos irão pensar: “Aquele ali será deixado”, mas ele será tomado. Não fique tão certo assim a respeito de si mesmo. Se você pensa que está pronto, estão você não está pronto. Mas se você realmente pensa que não está pronto, então pode ser que você esteja pronto. Por essa razão o Senhor diz: “Portanto, vigiai”. É por esses acontecimentos que nós estamos esperando e, quando eles ocorrerem, você saberá que a presença do Senhor é chegada.

Irmãos, eu tenho estado em conflito com relação a este assunto, pois não quero passa-lo a vocês como um conhecimento acadêmico. Sabemos que as pessoas estão interessadas no arrebatamento, mas aquilo que realmente as interessa é a interpretação do arrebatamento. Eu espero que vocês não estejam interessados na interpretação, mas que o interesse de vocês estejam no arrebatamento em si. Qualquer interpretação que nos ajude a estar mais vigilantes e melhor preparados será proveitosa, porém o simples fato de defender uma interpretação não significa nada. Irmãos, o que é importante e o que estamos aguardando é a parúsia do Senhor. Se você o ama, você anseia que Ele esteja presente. Ele tem estado ausente por tanto tempo e, graças a Deus, Ele irá satisfazer nosso coração que por Ele anseia. Mas você sabe que mesmo antes de deixar-nos, o Senhor nos que disse que voltaria para tomar-nos para Si? Em outras palavras, há anseio no coração do Senhor Jesus pela noiva. Desde o dia em que partiu, o Senhor está ansiosamente esperando pelo momento que poderá tomar a Sua noiva para Si.

O arrebatamento é o anseio do coração de Cristo. Ele anseia por receber-nos. Ele anseia por tomar-nos para Si para sermos Sua noiva eterna, mas infelizmente não estamos prontos. Por isso, irmãos, nós precisamos ter o coração de Cristo. Assim como Ele anseia por nós, que nós ansiemos por Ele. Precisamos ter o espírito do arrebatamento, e não apenas o conhecimento do arrebatamento. De que adianta o conhecimento se você for deixado?

Precisamos ter esse espírito do arrebatamento. O que é o espírito do arrebatamento? É um espírito no qual mesmo que você ainda esteja aqui na terra, seu coração já está lá no céu. O Senhor Jesus disse: “Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem que está no céu” (Jo 3:13). Mesmo quando o nosso Senhor estava na terra, Ele estava no céu. Este é o espírito do arrebatamento. Será que estamos tão ligados à terra que quando o Senhor vier, estaremos tão pesados, tão enraizados que Ele não poderá nos tomar? O trigo tem que secar para ser cortado. Será que estamos secos com relação à terra? O nosso coração já está no céu? Acaso vivemos diariamente no espírito do arrebatamento? Se isso acontecer, então eu creio que terá sido válido compartilhar estas coisas. Caso contrário, terá sido apenas vaidade.

Vamos completar a cena que estávamos visualizando no capitulo 12 de Apocalipse. O filho varão (aquele que foi tomado) é arrebatamento para o trono. Então, os que são tomados formam a vanguarda que prepara o caminho para a vinda do Rei. Os ares constituem o quartel general do príncipe deste mundo. Todavia, como esses vencedores já o venceram em sua vida diária, eles podem abrir caminho através do quartel general do inimigo e alcançar o trono. Eles são o grupo de boas vindas. Eles vão até lá para trazer o Senhor do trono até os ares. Por essa razão, Miguel e seus anjos irão pelejar contra Satanás e seus seguidores nos ares e Satanás será lançado sobre a terra, inicia-se a Grande Tribulação. Aqueles que são deixados para trás terão de sofrer, mas graças a Deus, será mais uma oportunidade. Se você não está disposto a ser disciplinado hoje, o Senhor lhe dará uma nova oportunidade de ser disciplinado durante a Grande Tribulação. Quando a tribulação terminar, a colheita estará pronta. Então você descobre que, ao soar da trombeta, os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro e aqueles que vivem e ficarem serão transformados e arrebatados juntos até os ares para lá encontrar com o Senhor. Isto é arrebatamento. Irmãos, vocês anseiam por ser arrebatados? O quanto antes melhor, não por nossa causa mas por causa dele. Possa o Senhor nos ajudar.

Oremos:
Amado Senhor Jesus, mesmo antes da Tua partida, Tu prometeste que voltarias para nos receber para Ti mesmo. Mas Senhor, Tu tens esperado por dois mil anos e nós ainda estamos aqui. Senhor, como desejamos poder satisfazer o Teu coração de modo que estejamos prontos para Ti, de modo que apressemos o Teu retorno para que possa nos ter para Ti mesmo e, assim satisfazer o anseio do Teu coração. Senhor, não permitas que sejamos indiferentes; não permita que estejamos voltados para esta terra; não permita que pensemos que o nosso Senhor demora-se; mas que possamos viver diariamente no espírito do arrebatamento. Pedimos isto no Teu precioso nome. Amém.Autor: Stephen Kaung
Extraído do livro "O Rei Está Voltando" do irmão Stephen Kaung da Associação de Literatura Cristã

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Sobre Santos e Mundanos

“Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo 2.15)
 
Boa parcela de cristãos costuma fazer certa confusão quando se refere ao “mundo”. Embora a bíblia use sempre o mesmo vocábulo (kósmos), é preciso reconhecer os seus diferentes significados: há o “mundo”, globo terrestre, que inclui toda obra da Criação, a humanidade e suas gentes, e há o “mundo” entendido como perversão de valores, lugar de trevas e engano. Mundo, então, neste sentido, é a ideologia vigente que se rebela ao Eterno, e leva a tragédia à existência humana. Quem vive sob esta ótica não tem como amar a Deus, pois se tornou escravo do sistema e o seu “eu” é o seu próprio deus.
 
A bíblia alerta: “não ameis o mundo” (ideologia), mas diz que “Deus amou ao mundo” (pessoas).
 
Geograficamente, o cristão está “no” mundo, embora não seja “do” mundo, e Jesus roga ao Pai para que não tirasse os seus filhos do mundo, mas que tão somente os guardasse do mal (Jo 17.15)
 
Mundo-perversão não é necessariamente um lugar geográfico, mas ele sempre surgirá onde predominam pensamentos, atitudes e posturas contrárias ao Evangelho. Até a igreja pode ser mais “mundo” que o mundo se os seus valores estiverem invertidos. Disputa pelo poder, busca de sucesso e glamour, espírito de competição, e satisfação de interesses pessoais, sempre nascem de uma visão “mundana”. Quando Lutero tentou evadir-se das mazelas da sociedade do seu tempo, se refugiou num mosteiro, mas logo percebeu que “o mundo” estava presente ali tanto quanto lá fora.
 
Pode um cristão compartilhar da amizade e companhia de pessoas “do mundo”? Claro, o mundo é o nosso campo de atuação, é onde a luz precisa brilhar, e o sal salgar. Jesus, orando ao Pai, disse: “Assim como Tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (Jo 17.18).
 
Quando Paulo escreve: “não vos associeis com os impuros” (1Co 5.9) significa: “não comungueis com as ideias e posturas que não correspondam aos valores do Reino”. Ou seja, viva no mundo, mas não se prenda à valoração deste mundo. Não manter contato com “impuros” seria impossível, pois senão “teríeis de sair do mundo” (1Co 5.10), finaliza o apóstolo.
 
Interessante, como um Jesus inegavelmente santo, vai às festas que o convidam, não se importa com a fama de quem ele se senta à mesa, dá de ombros quando é chamado de “glutão e beberrão, amigo de pecadores” (Lc 7.34), e não faz acepção de pessoas. Em tudo isso ele não se maculou.
 
Um aspecto que a igreja às vezes tem dificuldades em admitir, é de que Deus além de ter amado o mundo de tal forma que enviou o Seu Filho, Ele também outorga as suas bênçãos a todas as pessoas, independentemente delas aderirem à fé ou não. É a “graça comum”, que embora não conduza à salvação de seus recebedores, é concedida pelo Pai que “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mt 5.45). “O Senhor é bom para todos” (Sl 145.9), ensina o salmista.
Eric Lidell, campeão olímpico nos 100m em 1924, no filme Carruagens de Fogo disse: “Creio que Deus me fez para um propósito, mas Ele também me fez veloz, e quando eu corro, sei que agrado a Deus”. Mais tarde ele diria que “desistir de correr, seria despreza-Lo”. Depois Lidell tornou-se missionário e terminou seus dias num campo de concentração na China aos 43 anos.
 
É de Deus que vem todo talento e destreza nas artes em geral, na música, no cinema, teatro, esportes, na literatura.... Tudo que é belo, tudo o que é bom, e todo dom perfeito vem do Alto (Tg 1.17). Por vezes, muitos incrédulos são até mesmo mais aquinhoados com talentos que os próprios cristãos confessos, pois “os filhos do mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz” (Lc 16.8).
 
Só assim é possível entender porque há tantas coisas boas na vida, produzidas por gente do “mundo”. Os versos de Pessoa, a voz limpa e clara da Ana Carolina, as canções do U2, o vozeirão rouco do Louis Armstrong, os dribles do Neymar, a guitarra do B.B.King, os girassóis de Van Gogh, a genialidade do Bill Gates, e tudo o mais que há de belo e perfeito tiveram origem em Deus. Origem em Deus, eu repito – e não no diabo – ainda que estes não reconheçam nem glorifiquem ao Eterno.
 
Agora, quem não é capaz de ver beleza nestas coisas, duvido que aprecie o que verá no céu, pois na Nova Jerusalém os reis da terra apresentarão a Deus a glória que possuem e a honra das nações (Ap 21.24-26). Creio que lá estarão presentes o acervo do Louvre, do Masp e a metade de Florença com suas pinturas e afrescos.
 
Há coisas que estão no mundo, mas não são “mundanas”. Por isso, enquanto puder quero continuar levando meu filho ao estádio, assistir filmes que emocionem, dar muita risada com o Jim Carrey, gastar dinheiro com livros, ler a Folha e o Estadão enquanto tomo café, comer churrasco com a família reunida, e descansar janeiro na praia, sem fazer nada...., pois “nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se?” (Ec 2.24-25).
 
Pr. Daniel Rochadadaro@uol.com.br