O filme: Morte em Veneza do diretor Luchino Visconti, ano 1971, 
é um clássico baseado no romance de Thomas Mann, com o mesmo título e, publicado 
pela primeira vez em 1912. Espero que assistam depois do meu comentário e tirem 
suas conclusões. 
Em uma burguesia extravagante e consumista, vivendo o florescer 
do capitalismo, se escondia em cada situação social a hipocrisia e a luxúria; o 
ócio e o faz de contas; um mundo restrito a uma fatídica realidade desgostosa e 
entediante. A filmagem é pouco comum para os nossos dias, acostumados a 
superproduções hollywoodianas com, alta tecnologia e hiperdefinição de tomadas 
de imagens. Creio que o diretor acertou, com sua proposta de nos causar um 
estranhamento; até vontade de sair da sala de projeção. Mas, é uma belíssima 
produção, com os impecáveis figurinos dos atores; a praia, as ruas, as casas da 
velha e romântica Veneza do início do século XX. 
O pavor e o medo da sombria 
peste negra ( a cólera ) que, matou milhões de europeus e asiáticos, se 
aproximava da cidade. O tema da homossexualidade é uma contradição naquela 
sociedade aparentemente puritana e impostora. Tratado no filme de maneira 
cuidadosa e imparcial o tema, penso eu, fica aberto a conclusões dos que o 
assistem; sem uma apologia a um determinado ponto de vista. 
O ator principal o 
escritor alemão Ausenbach, é um misto de obsessão beirando a loucura, e um 
conhecimento mais artístico e sentimental, que uma racionalidade moral. 
Ausenbach já talvez portador do vírus da cólera oscila entre a saúde e fraqueza. 
Sua obsessão mostra o perfil de alguém que, cegado por um desejo, se deixa 
morrer pelo inatingível. A lembrança de sua esposa e filha que, ficaram em 
Munique, talvez salvasse sua vida se voltasse; mas, como foi enfeitiçado pelo 
belo, retroagiu para o destino que escolhera. 
Os cantores e músicos que cantam, 
tocam e riem entretendo os turistas venezianos, os enganam pois, a sombria peste 
se aproxima; é preferível vê-los gastar na cidade, que alertá-los sobre a 
epidemia. 
Tadzio como a representação e corporificação do belo platônico, 
simboliza o inconsciente inquietante de Ausenbach, buscando uma suposta 
satisfação; isso comprometeria sua carreira como escritor e, a discriminação o 
expulsaria da elite burguesa. A mãe de Tadzio é um típico exemplo de passividade 
e, ignorância sentimental. Na praia ela se diverte lendo livros e conversando 
com parentes, enquanto se imobiliza ao ver seu filho a mercê de olhares 
estranhos. 
O inatingimento da obsessão pervertida do escritor Ausenbach, com sua 
morte ao final, pode representar um discurso para no fundo não justificar a 
homossexualismo. Penso que a homossexualidade é sugerida pelo diretor; que 
também é o protagonista, como uma doença; se comparada a peste que se avizinha. 
Uma epidemia mortal e sem cura, isso no contexto da projeção. A puberdade de 
Tadzio é um momento de reflexão. Os pais devem tratar do assunto com os filhos 
com sinceridade e honestidade, sem discriminação; trazendo para a discussão 
elemento morais, éticos, culturais e espirituais. Acho que nesta perspectiva, se 
produzirá equilíbrio e coerência, sem os demoníacos e perigosos extremos. 
A cena 
do prostíbulo expõe nossa natureza corrupta, onde os desejos e fantasias 
sexuais, fora de uma normalidade são alta dose de veneno para o inconsciente. As 
discussões entre Ausenbach e seu amigo sobre o belo platônico, expõe o perigo de 
se idealizar uma doutrina, em bases sentimentais, sem equilíbrio e totalizante. 
Insinua-se um auto governo de atitudes e vontades, sem lugar para contradições, 
desprovida de um mecanismo de retenção. Assistam. Shalom, Shema. Abraços a 
todos. Até breve.
Davi.
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