quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O cinema pensa

O filme: Morte em Veneza do diretor Luchino Visconti, ano 1971, é um clássico baseado no romance de Thomas Mann, com o mesmo título e, publicado pela primeira vez em 1912. Espero que assistam depois do meu comentário e tirem suas conclusões.
 
Em uma burguesia extravagante e consumista, vivendo o florescer do capitalismo, se escondia em cada situação social a hipocrisia e a luxúria; o ócio e o faz de contas; um mundo restrito a uma fatídica realidade desgostosa e entediante. A filmagem é pouco comum para os nossos dias, acostumados a superproduções hollywoodianas com, alta tecnologia e hiperdefinição de tomadas de imagens. Creio que o diretor acertou, com sua proposta de nos causar um estranhamento; até vontade de sair da sala de projeção. Mas, é uma belíssima produção, com os impecáveis figurinos dos atores; a praia, as ruas, as casas da velha e romântica Veneza do início do século XX.
 
O pavor e o medo da sombria peste negra ( a cólera ) que, matou milhões de europeus e asiáticos, se aproximava da cidade. O tema da homossexualidade é uma contradição naquela sociedade aparentemente puritana e impostora. Tratado no filme de maneira cuidadosa e imparcial o tema, penso eu, fica aberto a conclusões dos que o assistem; sem uma apologia a um determinado ponto de vista.
 
O ator principal o escritor alemão Ausenbach, é um misto de obsessão beirando a loucura, e um conhecimento mais artístico e sentimental, que uma racionalidade moral. Ausenbach já talvez portador do vírus da cólera oscila entre a saúde e fraqueza. Sua obsessão mostra o perfil de alguém que, cegado por um desejo, se deixa morrer pelo inatingível. A lembrança de sua esposa e filha que, ficaram em Munique, talvez salvasse sua vida se voltasse; mas, como foi enfeitiçado pelo belo, retroagiu para o destino que escolhera.
 
Os cantores e músicos que cantam, tocam e riem entretendo os turistas venezianos, os enganam pois, a sombria peste se aproxima; é preferível vê-los gastar na cidade, que alertá-los sobre a epidemia.
 
Tadzio como a representação e corporificação do belo platônico, simboliza o inconsciente inquietante de Ausenbach, buscando uma suposta satisfação; isso comprometeria sua carreira como escritor e, a discriminação o expulsaria da elite burguesa. A mãe de Tadzio é um típico exemplo de passividade e, ignorância sentimental. Na praia ela se diverte lendo livros e conversando com parentes, enquanto se imobiliza ao ver seu filho a mercê de olhares estranhos.
 
O inatingimento da obsessão pervertida do escritor Ausenbach, com sua morte ao final, pode representar um discurso para no fundo não justificar a homossexualismo. Penso que a homossexualidade é sugerida pelo diretor; que também é o protagonista, como uma doença; se comparada a peste que se avizinha. Uma epidemia mortal e sem cura, isso no contexto da projeção. A puberdade de Tadzio é um momento de reflexão. Os pais devem tratar do assunto com os filhos com sinceridade e honestidade, sem discriminação; trazendo para a discussão elemento morais, éticos, culturais e espirituais. Acho que nesta perspectiva, se produzirá equilíbrio e coerência, sem os demoníacos e perigosos extremos.
 
A cena do prostíbulo expõe nossa natureza corrupta, onde os desejos e fantasias sexuais, fora de uma normalidade são alta dose de veneno para o inconsciente. As discussões entre Ausenbach e seu amigo sobre o belo platônico, expõe o perigo de se idealizar uma doutrina, em bases sentimentais, sem equilíbrio e totalizante. Insinua-se um auto governo de atitudes e vontades, sem lugar para contradições, desprovida de um mecanismo de retenção. Assistam. Shalom, Shema. Abraços a todos. Até breve.
 
Davi.

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