quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Comunhão e Confessar.

 I Jo 1:7 Porém, se vivemos na luz, como Deus está na luz, então estamos unidos uns com os outros e o sangue de Jesus o seu Filho nos limpa de todo o pecado.
 
I Jo 1:9 Mas se confessarmos os nossos pecados a Deus, ele perdoará os vossos pecados e nos limpará de toda maldade.
 
Tg 5:16 Portanto confessem os seus pecados uns aos outros, para que vocês sejam curados.
 
Pv 28:13 Quem tenta esconder os seus pecados não terá sucesso na vida, mas Deus tem misericórdia de quem confessa os seus pecados e os abandona.
 
Textos extraídos da Bíblia Sagrada Ed. Paulina na linguagem de hoje.
 
As duas palavras chaves destes textos acima são: unidos (outra versão seria comunhão) e confessar. É interessante pois não há gradação, quanto a importância da união (comunhão); se a minha comunhão com Deus é, maior ou menor que a minha comunhão com o meu irmão. O diferencial é Deus como luz, contrastando com nossas trevas. Somos um misturar de luz e escuridão. É difícil saber se somos mais uma ou menos a outra.
 
Em Gn 1:3 inferimos um paralelo com um possível vislumbre de quem somos; no final diz: “a noite passou e veio a manhã. Esse foi o primeiro dia". Não sejamos simplórios ao imaginarmos que por praticarmos obras de justiça ( ir as reuniões, ler a Bíblia, orar, ofertar, das esmolas, não fumar, não beber, ser moralista ), nos santifiquem mais que, os demais filhos de Deus; inclusive nos avantajando sobre aqueles que ainda não creram.
 
Não nos enganemos, há mais trevas em nós do que imaginamos; como no princípio do livro de Gênesis, o mesmo período de dia e de noite. A questão é que maquiamos nossa sombra, com lampejos de bondade, santidade e ativismo espiritual. Nos escondemos em nossos atos de justiça, achando ser o ponto focal. A luz de Deus não é essencialmente santificadora mas, expositora, reparadora e condutora ( levando-nos a união com o Pai, seu Filho e os irmãos ). Quanto mais imerso nessa policromia divina, mais, reconhecemos quão abissais são nossas trevas; e assim podemos clamar: Senhor, socorre-nos.
 
“Mas, se confessarmos o nosso pecado a Deus“. Aqui fica claro que, quanto mais luz mais confessar, quanto menos luz menos confessar. Aparentemente é fácil em relação a Deus, mas, essa mesma atitude para com um irmão não é tão simples. Blaise Pascal ( 1623 – 1662 ) um filósofo e piedoso cristão, no auge de sua experiência com Deus dizia que, os nossos pecados deveriam ser confessados para o máximo de pessoas possíveis. Uma irrealidade em nosso contexto pós-moderno.
 
Assim como precisamos do perdão de nossa Pai Eterno, de igual modo e, na mesma proporção do perdão de nossos irmãos. “Portanto confessem os seus pecados ... para que vocês sejam curados“. Aqui o pecado parece ser tratado como uma doença sintomática e, o processo de cura é pelo confessar uns aos outros; com a oração de uma pessoa obediente a Deus.
 
Acho estranho, termos uma compreensão de pecado como algo estanque e terminal. O pensamento do apóstolo Tiago é bem coerente nesse texto, pois se deduz o pecado como uma construção contínua existencial. Quando nosso corpo é acometido por algum mal, precisamos de um médico para nos receitar um remédio. A analogia é verdadeira, quanto ao corpo espiritual; se não houver um tratamento, o corpo somatizará os problemas, produzindo ansiedades, depressões e neuroses, aliados a sentimentos de culpa.
 
O confessar os pecados e a oração são a materialização da “ cura pela fala “, expressão criada por Sigmund Freud ( 1856 – 1939 ). Ao falar para um “ amigo mais chegado que um irmão “, Pv 18:24, confrontamos nossas trevas, choramos, nos envergonhamos, percebemos nossa real condição, nos arrependemos e, entramos em um processo de restabelecimento espiritual e emocional. Em Pv 28:13 diz: “ Quem tenta esconder os seus pecados não terá sucesso na vida ...”, um texto bem ao nosso estilo contemporâneo onde, o sucesso é questão de racionalidade mental, mas, também advindo do equilíbrio e harmonia emocional – espiritual. Comunhão e confessar são duas palavras que, podem mudar o rumo de nossa história cristã.
 
Abraços a todos os irmãos e amigos.
 
Davi.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O cinema pensa

O filme: Morte em Veneza do diretor Luchino Visconti, ano 1971, é um clássico baseado no romance de Thomas Mann, com o mesmo título e, publicado pela primeira vez em 1912. Espero que assistam depois do meu comentário e tirem suas conclusões.
 
Em uma burguesia extravagante e consumista, vivendo o florescer do capitalismo, se escondia em cada situação social a hipocrisia e a luxúria; o ócio e o faz de contas; um mundo restrito a uma fatídica realidade desgostosa e entediante. A filmagem é pouco comum para os nossos dias, acostumados a superproduções hollywoodianas com, alta tecnologia e hiperdefinição de tomadas de imagens. Creio que o diretor acertou, com sua proposta de nos causar um estranhamento; até vontade de sair da sala de projeção. Mas, é uma belíssima produção, com os impecáveis figurinos dos atores; a praia, as ruas, as casas da velha e romântica Veneza do início do século XX.
 
O pavor e o medo da sombria peste negra ( a cólera ) que, matou milhões de europeus e asiáticos, se aproximava da cidade. O tema da homossexualidade é uma contradição naquela sociedade aparentemente puritana e impostora. Tratado no filme de maneira cuidadosa e imparcial o tema, penso eu, fica aberto a conclusões dos que o assistem; sem uma apologia a um determinado ponto de vista.
 
O ator principal o escritor alemão Ausenbach, é um misto de obsessão beirando a loucura, e um conhecimento mais artístico e sentimental, que uma racionalidade moral. Ausenbach já talvez portador do vírus da cólera oscila entre a saúde e fraqueza. Sua obsessão mostra o perfil de alguém que, cegado por um desejo, se deixa morrer pelo inatingível. A lembrança de sua esposa e filha que, ficaram em Munique, talvez salvasse sua vida se voltasse; mas, como foi enfeitiçado pelo belo, retroagiu para o destino que escolhera.
 
Os cantores e músicos que cantam, tocam e riem entretendo os turistas venezianos, os enganam pois, a sombria peste se aproxima; é preferível vê-los gastar na cidade, que alertá-los sobre a epidemia.
 
Tadzio como a representação e corporificação do belo platônico, simboliza o inconsciente inquietante de Ausenbach, buscando uma suposta satisfação; isso comprometeria sua carreira como escritor e, a discriminação o expulsaria da elite burguesa. A mãe de Tadzio é um típico exemplo de passividade e, ignorância sentimental. Na praia ela se diverte lendo livros e conversando com parentes, enquanto se imobiliza ao ver seu filho a mercê de olhares estranhos.
 
O inatingimento da obsessão pervertida do escritor Ausenbach, com sua morte ao final, pode representar um discurso para no fundo não justificar a homossexualismo. Penso que a homossexualidade é sugerida pelo diretor; que também é o protagonista, como uma doença; se comparada a peste que se avizinha. Uma epidemia mortal e sem cura, isso no contexto da projeção. A puberdade de Tadzio é um momento de reflexão. Os pais devem tratar do assunto com os filhos com sinceridade e honestidade, sem discriminação; trazendo para a discussão elemento morais, éticos, culturais e espirituais. Acho que nesta perspectiva, se produzirá equilíbrio e coerência, sem os demoníacos e perigosos extremos.
 
A cena do prostíbulo expõe nossa natureza corrupta, onde os desejos e fantasias sexuais, fora de uma normalidade são alta dose de veneno para o inconsciente. As discussões entre Ausenbach e seu amigo sobre o belo platônico, expõe o perigo de se idealizar uma doutrina, em bases sentimentais, sem equilíbrio e totalizante. Insinua-se um auto governo de atitudes e vontades, sem lugar para contradições, desprovida de um mecanismo de retenção. Assistam. Shalom, Shema. Abraços a todos. Até breve.
 
Davi.