quinta-feira, 25 de julho de 2013

Dízimo ou Mordomia Cristã?

Frequentemente sou perguntado se devemos ou não dar o dízimo, e esse tem se tornado um dos assuntos religiosos mais controversos até mesmo entre os que não seguem a fé cristã. Estranhamente, as pessoas perguntam já respondendo, afirmando ser isso algo do Antigo Testamento e que os apóstolos não orientaram a Igreja a dar o dízimo. O que me surpreende é que nunca encontrei alguém perguntando ou refletindo sobre o que Deus quer nos ensinar com o dízimo.
 
A maioria acha que Jesus não deixou explícito, de forma doutrinária e até sacramental, a questão do dízimo no Novo Testamento. Mas será que Ele deixou clara Sua vontade sobre isso e não a vemos porque estamos lendo com as lentes da avareza? Não entendemos ainda que o âmago da questão não é se devemos ou não dar os 10%, mas sim a motivação em contribuirmos ou não. Na verdade, estamos sendo provados por Deus com os bens que Ele nos confiou para representá-lO. Por isso, não se trata do quanto damos, mas do quanto retemos para nós. Não se trata de quanto vamos contribuir nem da frequência em si, mas se entendemos que nada do que temos é nosso, mas sim d’Ele.
 
O verdadeiro cristão encara a relação com o dinheiro como algo espiritual. Nada revela mais nossa real relação com Deus e com o mundo do que pela forma que usamos o dinheiro. Será que discernimos que há uma força maligna que alimenta o sistema mundial de modo que a maioria de nós esteja dominada pelo dinheiro? Se o que determina nossas ações é o quanto vamos ganhar ou perder, então estamos sendo dominados pelo dinheiro. Precisamos aprender, ainda que com dores, que o modo como lidamos com o dinheiro determina o elo entre nós e Deus ou com os demônios. E Jesus nos advertiu que ninguém pode servir a Deus ou ao dinheiro ao mesmo tempo.
 
“O Espírito de Deus tenta falar ao homem moderno sobre a grande maldição que está sobre seu coração e sua vida – ele ficou tão absorvido pelo dinheiro e (…) por seus interesses que qualquer noção de Deus (…) e de eternidade não tem espaço em seu mundo. Há cifrões diante de seus olhos, e ele preferiria fechar um negócio e obter um lucro irrisório a procurar o caminho para o reino de Deus” (A. W. Tozer).
 
O cego avarento faz apologia a uma fútil espiritualidade, dizendo que Deus não se importa com dinheiro. “Na verdade”, disse Howard Dayton [1], “Jesus Cristo falou mais sobre dinheiro do que sobre quase todos os outros assuntos. Há na Bíblia 500 versículos sobre oração, menos que 500 sobre a fé, porém, mais de 2.350 sobre dinheiro e posses.” Temamos, então, que ao concentrar demasiado esforço em provar que o dízimo foi só uma passageira obrigação da Lei não estejamos, na verdade, sagazmente manipulando um meio para justificar nossa avareza e, assim, escapar da responsabilidade em honrar a Deus com nossas finanças.
 
Eu não faço apologia ao dízimo, mas sim à mordomia cristã. A história nos mostra que os homens mais usados por Deus foram sempre os mais generosos. “Essa é uma questão em que muitos líderes naufragam, e seu trabalho tão importante termina desastrosamente. O amor ao dinheiro por parte de alguns tem feito mais para desacreditar a obra de evangelização, e para levar muitos ao ostracismo, do que qualquer outro fator” (Torrey). A meu ver, o auge de um verdadeiro avivamento é atingido quando o poder do Espírito Santo leva a Igreja à reforma social, a ponto de os mais ricos repartirem com os mais pobres, quando ninguém retém algo para si, quando o dinheiro não é gasto em coisas vis e há provisão para o avanço do Reino de Deus. Muitos querem se distinguir na pregação e no ministério, mas, segundo Paulo, devemos nos aplicar às boas obras a favor dos necessitados, pois esse é um dos motivos de sermos infrutíferos na fé (Tito 3:14).
 
Lutero mencionou que “a última coisa a se converter num homem é o seu bolso”. A minha sugestão é que, longe de ser uma obrigação sob pena de maldição, devemos contribuir liberal e sistematicamente e podemos usar (no mínimo) o dízimo como um princípio de mordomia, expressando a graça de Deus em generosidade e justiça. Reconheçamos que por natureza somos avarentos e por isso devemos desconfiar de nosso maligno coração. Não caiamos no engano de contribuir quando “sentirmos”, porque nossa carne nunca sente de se render aos interesses de Cristo e, quando o faz, espera receber em troca. Temos que pregar o Evangelho para nosso dinheiro assim que o recebemos, consagrando-o totalmente a Deus. É a prática da contribuição pela fé em Deus que nos cura da avareza, até sermos gradualmente conformados à imagem d’Aquele que, sendo rico, Se fez pobre, para que na Sua pobreza enriquecesse a muitos.
 
“O lema do cristão deve ser: trabalhar muito, gastar pouco, dar muito e dedicar-se inteiramente a Cristo” (Anthony Groves).
 
Como prática de disciplina cristã, recomendo o que Tozer disse:
“1. Nossa oferta deve ser sistemática;
2. nossa oferta deve ser fruto de um motivo justo;
3. nossa oferta deve ser proporcional ao que temos; e
4. nossa oferta deve ser feita no(s) lugar(es) certo(s)”.
 
Temamos que alguém seja tão pobre que a única coisa que ele tenha seja o dinheiro.
 
Gerson Lima
Monte Mor, 27/06/2013

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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Comunhão e Confessar.

 I Jo 1:7 Porém, se vivemos na luz, como Deus está na luz, então estamos unidos uns com os outros e o sangue de Jesus o seu Filho nos limpa de todo o pecado.
 
I Jo 1:9 Mas se confessarmos os nossos pecados a Deus, ele perdoará os vossos pecados e nos limpará de toda maldade.
 
Tg 5:16 Portanto confessem os seus pecados uns aos outros, para que vocês sejam curados.
 
Pv 28:13 Quem tenta esconder os seus pecados não terá sucesso na vida, mas Deus tem misericórdia de quem confessa os seus pecados e os abandona.
 
Textos extraídos da Bíblia Sagrada Ed. Paulina na linguagem de hoje.
 
As duas palavras chaves destes textos acima são: unidos (outra versão seria comunhão) e confessar. É interessante pois não há gradação, quanto a importância da união (comunhão); se a minha comunhão com Deus é, maior ou menor que a minha comunhão com o meu irmão. O diferencial é Deus como luz, contrastando com nossas trevas. Somos um misturar de luz e escuridão. É difícil saber se somos mais uma ou menos a outra.
 
Em Gn 1:3 inferimos um paralelo com um possível vislumbre de quem somos; no final diz: “a noite passou e veio a manhã. Esse foi o primeiro dia". Não sejamos simplórios ao imaginarmos que por praticarmos obras de justiça ( ir as reuniões, ler a Bíblia, orar, ofertar, das esmolas, não fumar, não beber, ser moralista ), nos santifiquem mais que, os demais filhos de Deus; inclusive nos avantajando sobre aqueles que ainda não creram.
 
Não nos enganemos, há mais trevas em nós do que imaginamos; como no princípio do livro de Gênesis, o mesmo período de dia e de noite. A questão é que maquiamos nossa sombra, com lampejos de bondade, santidade e ativismo espiritual. Nos escondemos em nossos atos de justiça, achando ser o ponto focal. A luz de Deus não é essencialmente santificadora mas, expositora, reparadora e condutora ( levando-nos a união com o Pai, seu Filho e os irmãos ). Quanto mais imerso nessa policromia divina, mais, reconhecemos quão abissais são nossas trevas; e assim podemos clamar: Senhor, socorre-nos.
 
“Mas, se confessarmos o nosso pecado a Deus“. Aqui fica claro que, quanto mais luz mais confessar, quanto menos luz menos confessar. Aparentemente é fácil em relação a Deus, mas, essa mesma atitude para com um irmão não é tão simples. Blaise Pascal ( 1623 – 1662 ) um filósofo e piedoso cristão, no auge de sua experiência com Deus dizia que, os nossos pecados deveriam ser confessados para o máximo de pessoas possíveis. Uma irrealidade em nosso contexto pós-moderno.
 
Assim como precisamos do perdão de nossa Pai Eterno, de igual modo e, na mesma proporção do perdão de nossos irmãos. “Portanto confessem os seus pecados ... para que vocês sejam curados“. Aqui o pecado parece ser tratado como uma doença sintomática e, o processo de cura é pelo confessar uns aos outros; com a oração de uma pessoa obediente a Deus.
 
Acho estranho, termos uma compreensão de pecado como algo estanque e terminal. O pensamento do apóstolo Tiago é bem coerente nesse texto, pois se deduz o pecado como uma construção contínua existencial. Quando nosso corpo é acometido por algum mal, precisamos de um médico para nos receitar um remédio. A analogia é verdadeira, quanto ao corpo espiritual; se não houver um tratamento, o corpo somatizará os problemas, produzindo ansiedades, depressões e neuroses, aliados a sentimentos de culpa.
 
O confessar os pecados e a oração são a materialização da “ cura pela fala “, expressão criada por Sigmund Freud ( 1856 – 1939 ). Ao falar para um “ amigo mais chegado que um irmão “, Pv 18:24, confrontamos nossas trevas, choramos, nos envergonhamos, percebemos nossa real condição, nos arrependemos e, entramos em um processo de restabelecimento espiritual e emocional. Em Pv 28:13 diz: “ Quem tenta esconder os seus pecados não terá sucesso na vida ...”, um texto bem ao nosso estilo contemporâneo onde, o sucesso é questão de racionalidade mental, mas, também advindo do equilíbrio e harmonia emocional – espiritual. Comunhão e confessar são duas palavras que, podem mudar o rumo de nossa história cristã.
 
Abraços a todos os irmãos e amigos.
 
Davi.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O cinema pensa

O filme: Morte em Veneza do diretor Luchino Visconti, ano 1971, é um clássico baseado no romance de Thomas Mann, com o mesmo título e, publicado pela primeira vez em 1912. Espero que assistam depois do meu comentário e tirem suas conclusões.
 
Em uma burguesia extravagante e consumista, vivendo o florescer do capitalismo, se escondia em cada situação social a hipocrisia e a luxúria; o ócio e o faz de contas; um mundo restrito a uma fatídica realidade desgostosa e entediante. A filmagem é pouco comum para os nossos dias, acostumados a superproduções hollywoodianas com, alta tecnologia e hiperdefinição de tomadas de imagens. Creio que o diretor acertou, com sua proposta de nos causar um estranhamento; até vontade de sair da sala de projeção. Mas, é uma belíssima produção, com os impecáveis figurinos dos atores; a praia, as ruas, as casas da velha e romântica Veneza do início do século XX.
 
O pavor e o medo da sombria peste negra ( a cólera ) que, matou milhões de europeus e asiáticos, se aproximava da cidade. O tema da homossexualidade é uma contradição naquela sociedade aparentemente puritana e impostora. Tratado no filme de maneira cuidadosa e imparcial o tema, penso eu, fica aberto a conclusões dos que o assistem; sem uma apologia a um determinado ponto de vista.
 
O ator principal o escritor alemão Ausenbach, é um misto de obsessão beirando a loucura, e um conhecimento mais artístico e sentimental, que uma racionalidade moral. Ausenbach já talvez portador do vírus da cólera oscila entre a saúde e fraqueza. Sua obsessão mostra o perfil de alguém que, cegado por um desejo, se deixa morrer pelo inatingível. A lembrança de sua esposa e filha que, ficaram em Munique, talvez salvasse sua vida se voltasse; mas, como foi enfeitiçado pelo belo, retroagiu para o destino que escolhera.
 
Os cantores e músicos que cantam, tocam e riem entretendo os turistas venezianos, os enganam pois, a sombria peste se aproxima; é preferível vê-los gastar na cidade, que alertá-los sobre a epidemia.
 
Tadzio como a representação e corporificação do belo platônico, simboliza o inconsciente inquietante de Ausenbach, buscando uma suposta satisfação; isso comprometeria sua carreira como escritor e, a discriminação o expulsaria da elite burguesa. A mãe de Tadzio é um típico exemplo de passividade e, ignorância sentimental. Na praia ela se diverte lendo livros e conversando com parentes, enquanto se imobiliza ao ver seu filho a mercê de olhares estranhos.
 
O inatingimento da obsessão pervertida do escritor Ausenbach, com sua morte ao final, pode representar um discurso para no fundo não justificar a homossexualismo. Penso que a homossexualidade é sugerida pelo diretor; que também é o protagonista, como uma doença; se comparada a peste que se avizinha. Uma epidemia mortal e sem cura, isso no contexto da projeção. A puberdade de Tadzio é um momento de reflexão. Os pais devem tratar do assunto com os filhos com sinceridade e honestidade, sem discriminação; trazendo para a discussão elemento morais, éticos, culturais e espirituais. Acho que nesta perspectiva, se produzirá equilíbrio e coerência, sem os demoníacos e perigosos extremos.
 
A cena do prostíbulo expõe nossa natureza corrupta, onde os desejos e fantasias sexuais, fora de uma normalidade são alta dose de veneno para o inconsciente. As discussões entre Ausenbach e seu amigo sobre o belo platônico, expõe o perigo de se idealizar uma doutrina, em bases sentimentais, sem equilíbrio e totalizante. Insinua-se um auto governo de atitudes e vontades, sem lugar para contradições, desprovida de um mecanismo de retenção. Assistam. Shalom, Shema. Abraços a todos. Até breve.
 
Davi.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

NÃO QUERO UM DEUS QUE FUNCIONE !


                   Já decidi: Não quero um deus que funcione segundo as minhas expectativas. Não quero um deus que funcione de acordo com minhas orações. Não quero um deus que funcione de acordo com a minha noção de justiça. Não quero um deus que funcione a partir das minhas chantagens religiosas e minha birra espiritual. Não quero um deus que funcione na solução dos meus problemas, para me arranjar um emprego, para curar meu filho, para me ajudar a realizar meus sonhos. Não quero um deus que funcione à base da manivela da minha prática religiosa e de minha limitada piedade. Não quero um deus que funcione para aliviar minha mente estressada e meu coração carregado dos cuidados deste mundo. Não quero um deus que seja à minha imagem e semelhança.
                   Rejeito este relacionamento utilitário com Deus. De olhar para Ele como uma máquina de abençoar pessoas. Como essas máquinas de refrigerante que a gente encontra nas lojas de conveniência. Uma máquina que, para funcionar, precisa das moedas da oração, da leitura da Bíblia, do jejum, da participação regular nas atividades da igreja, do exercício constante e rígido para manter a santidade e não pecar, e assim por diante. Não quero um deus conveniente.
                   Rejeito esse evangelho que diz que Deus irá me abençoar apenas quando eu fizer determinadas coisas corretamente, que irá amar-me mais se eu tiver determinadas atitudes, que irá escolher-me para coisas importantes se meu coração estiver perfeito em sua presença.
                   Não quero um deus que funcione a partir de mim mesmo. Esse não é o deus verdadeiro, e sim o resultado frágil do meu próprio egoísmo, que lá no fundo busca um deus que lhe sirva para todos os fins.
                   Não, não quero um deus para funcionar. Hoje eu quero um Deus para me relacionar, para conhecer na intimidade, para reconhecer Sua soberania e submeter-me aos Seus propósitos. Quero um Deus para adorar, para amar, para me entregar, ainda que minha vida as coisas não funcionem como eu gostaria. Quero um Deus  para crer e manter-me fiel, ainda que isso implique em permanecer enfermo, desempregado, ou viver outras circunstâncias contrárias.
                   Não estou procurando funcionalidade, mas relacionamento. Talvez o mesmo relacionamento do filho pródigo com seu pai (Lucas 15). Um relacionamento baseado na graça e no amor do Pai, o qual, em todo tempo, manteve aberta  a porta do abraço e do beijo.
                  Quero ter com Deus o relacionamento de Arão, cujo privilégio foi ouvir do próprio Deus: “Na sua terra herança nenhuma terás, e no meio deles nenhuma porção terá,: EU SOU a tua porção e a tua herança no meio dos filhos de Israel.”(Números 18:20).
                   Já decidi: esse será o grande alvo da minha vida! Deus nos abençoe.
 
Pr. Henrique Rossi,  1a  I.P.I. de Maringá,

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

"LOUVAR A HOMENS"

Carta escrita no século 19 por John Nelson Darby ao Editor de um de seus livros
 
"Meu caro amigo e irmão em Jesus Cristo,
 
"Deu-me muita satisfação ver sua tradução de meu livro. Tive o grato prazer de lê-la, ou melhor dizendo, de ter alguém que a lesse para mim, naqueles momentos dos quais o Senhor nos diz, como disse aos apóstolos, "Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco" (Mc. 6:31). Mas não posso deixar de dizer-lhe, meu caro amigo, que o prazer que a aparência do seu trabalho me trouxe foi, em certa medida, abatido pela opinião demasiado favorável que você expressou a meu respeito no prefácio. Antes que tivesse lido uma palavra sequer de sua tradução, presenteei a um mui querido e sincero amigo com um exemplar, e ele mencionou o que você escreveu em seu prefácio louvando minha piedade. O texto produziu em meu amigo o mesmo efeito que viria a produzir em mim, mais tarde, quando o pude ler. Espero, entretanto, que você não leve a mal o que vou dizer a respeito do assunto, o que é fruto de uma experiência razoavelmente longa.
 
"O orgulho é o maior de todos os males que nos afligem, e de todos os nossos inimigos, não apenas é o mais difícil de morrer, como também o que tem a morte mais lenta; mesmo os filhos deste mundo são capazes de discernir isto. Madame De Stael disse, em seu leito de morte, Sabe qual é a última coisa que morre em uma pessoa? É o seu amor-próprio." Deus abomina o orgulho mais do que qualquer coisa, pois o orgulho dá ao homem o lugar que pertence a Deus que está acima de tudo. O orgulho interrompe a comunhão com Deus, e atrai Sua repreensão pois "Deus resiste aos soberbos" (I Pd. 5:5). Ele irá destruir o nome do soberbo, pois nos é dito que "a altivez do homem será humilhada, e a altivez dos varões se abaterá, e só o Senhor será exaltado naquele dia" (Is. 2:17). Como você mesmo irá sentir, meu caro amigo, estou certo de que não há maior mal que uma pessoa possa fazer a outra do que louvá-la e alimentar seu orgulho. "O homem que lisonjeia a seu próximo, arma uma rede aos seus passos" (Pv. 29:5) e "a boca lisonjeira obra a ruína" (Pv. 26:28). Você pode estar certo, além do mais, que nossa vista é muito curta para sermos capazes de julgar o grau de piedade de nosso irmão; não somos capazes de julgar corretamente sem a balança do santuário, e ela está nas mãos daqu*Éle que sonda o coração. Não julgue nada antes do tempo, até que o Senhor venha, e torne manifesto os conselhos do coração, e renda a cada um o devido louvor. Até então, não julguemos nossos irmãos, seja para bem seja para mal, senão com a moderação que convém, e lembremo-nos que o melhor e mais certo juízo é aquele que temos de nós mesmos quando consideramos aos outros melhores do que nós.

"Se eu fosse lhe perguntar como sabe que eu sou "um dos mais avançados na carreira cristã, e um eminente servo de Deus", sem dúvida você iria ficar sem saber o que responder. Talvez você viesse a mencionar minhas obras publicadas; mas será que você não sabe, querido amigo e irmão -- você que pode pregar um sermão edificante tanto quanto eu -- que os olhos vêem mais do que os pés alcançam? E que, infelizmente, nem sempre somos o que são os nossos sermões? "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós" (II Co. 4:7). Não lhe direi a opinião que tenho de mim mesmo, pois se o fizer, é provável que enquanto o faça procure minha própria glória, e, enquanto estiver buscando minha própria glória, possa parecer humilde, o que não sou. Prefiro dizer-lhe o que o nosso Mestre pensa de mim -- Ele que sonda o coração e fala a verdade, que é "o Amém e a fiel Testemunha", e que tem falado frequentemente no mais íntimo do meu ser, pelo que agradeço a Ele. Creia-me, Ele nunca me disse que sou um "eminente Cristão e avançado nos caminhos da piedade." Ao contrário, Ele me diz bem claramente que se eu procurasse o meu próprio lugar, iria encontrá-lo como sendo o do maior dos pecadores, pelo menos dentre os que são santificados. E devo dar mais crédito ao julgamento que Ele faz de mim, meu caro amigo, do que aquilo que você pensa a meu respeito.
 
"O mais eminente Cristão é um daqueles de quem nunca se ouviu falar, algum pobre trabalhador ou servo, para quem Cristo é tudo, e que faz tudo para ser visto por Ele, e somente por Ele. O primeiro deve ser o último. Fiquemos convencidos, meu caro amigo, de louvar somente o Senhor. Só Ele é digno de ser louvado, reverenciado, e adorado. A Sua bondade nunca é demasiadamente celebrada. O cântico dos abençoados (Apocalipse 5) não louva a ninguém senão `Aquele que os redimiu com o Seu sangue. Não há no cântico uma única palavra de louvor a qualquer dos redimidos -- nenhuma palavra que diga que são eminentes, ou que não são eminentes -- todas as distinções estão perdidas no título comum, "os redimidos", que expressa a alegria e glória de todo o Corpo. Empenhemo-nos em trazer nossos corações em uníssono com aquele cântico, ao qual todos esperamos que nossas débeis vozes venham se unir. Esta será a razão da nossa alegria, mesmo enquanto estivermos aqui, e contribuirá para a glória de Deus, a qual é lesada pelo louvor que os Cristãos frequentemente prestam uns aos outros. Não podemos ter duas bocas -- uma para louvar a Deus e outra para louvar o homem. Possamos, então, conhecer o que os serafins fazem (Isaías 6:2,3), quando com duas asas cobrem suas faces, como um sinal de sua confusão diante da sagrada presença do Senhor; com outras duas asas cobrem seus pés, como se tentassem esconder de si mesmos os seus próprios passos; e com as duas asas restantes voam para executar a vontade do Senhor, enquanto proclamam, "Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos: toda a terra está cheia da Sua glória".
 
"Perdoe-me por estas poucas linhas de exortação Cristã, as quais tenho certeza, irão, cedo ou tarde, se tornar úteis para você, passando a fazer parte da sua própria experiência. Lembre-se de mim em suas orações, enquanto rogo para que a bênção do Senhor possa pousar sobre você e seu trabalho. Se você porventura vier a imprimir uma outra edição -- como espero que aconteça -- por gentileza, exclua as duas frases para as quais chamei sua atenção; e me chame simplesmente "um irmão e ministro no Senhor." Isto já é honra bastante, e não é preciso mais." J. N. Darby